
Quando completou treze anos, Candinha foi trabalhar em um ateliê de alta costura.
O ateliê atendia à alta sociedade, pela porta da frente, e ao baixo meretrício, pela porta dos fundos. Candinha contava que era a costureira preferida de uma prostituta famosa, que sempre a escolhia para fazer os ajustes dos vestidos e lhe dava boas gorjetas. Também confeccionou lindos vestidos de noiva, que nunca seriam usados, porque as mocinhas que os encomendavam eram prostitutas que não queriam desgostar suas famílias no interior e justificavam a permanência em Santos com retratos de um casamento falso. As conversas maliciosas que ouvia durante as provas a chocavam, mas ela achava graça e ria das estórias. Escutava e aprendia muitas coisas; algumas boas, outras nem tanto: nesta época, incomodada com o calor do verão santista e com as manchas amarelas que o leite de colônia deixava em suas blusas, ouviu de uma cliente uma dica preciosa: passar limão assado debaixo dos braços. Ela passou, ainda quente, ficou com duas grandes bolhas nas axilas durante um mês, nunca mais precisou de desodorante e criou um método revolucionário de depilação definitiva.
A educação era rígida e cheia de regras. Vaidades e luxos eram tidos como liberdades e prontamente reprimidos. Candinha contava que, apesar de trabalhar com alta costura, tinha um guarda-roupa bem restrito, composto por peças simples que ela mesma confeccionava. Ela ganhava os cortes de tecido no seu aniversário: cambraia para blusinhas novas, alguns cortes de tecido mais encorpado para as peças mais importantes. Além disso, ganhava um par de sapatos novos. As peças novas ganhavam status de "roupa de sair", as do ano anterior iam para o dia-a-dia e as mais antigas eram usadas dentro de casa. Tudo muito discreto, para não chamar a atenção. Aos quinze anos, Candinha queria cortar o cabelo curto, a la garçonne, mas seu pai não permitiu. O jeito foi cortar uma franja para imitar o estilo e prender a parte longa com um coque na nuca. Uma vez, entrou em casa sob a mão pesada do seu pai, porque estava rindo na porta, na época em que correu a notícia de que uma moça da vizinhança tinha dado um "mau passo".
A "costura", como ela chamava seu emprego, também ajudou o início do namoro com Gaspar. Na verdade, nos primeiros anos, namorar significava corresponder a um aceno que ele lhe dava, quando ficava "casualmente" na porta de casa no horário em que ela passava, indo ou voltando da costura. Alguns anos depois, Gaspar foi autorizado a acompanhá-la no trajeto. Noivos, podiam ir ao cinema... com a família inteira acompanhando, é claro.
Quando saiu de lá para se casar, aos dezoito anos, tinha aprendido tudo sobre tecidos, cortes, viés, plissés, pregas, godés, casinhas de abelha e outras artes de agulha. Com muita competência, completou o guarda-roupa da família durante décadas.(Thaïs)
Nenhum comentário:
Postar um comentário