quarta-feira, abril 12, 2006

A infância de Candinha




Adelaide, com Júlio no colo, Maneco, Lidia e Candinha














Candinha não era de falar muito de sua infância. Me lembro de ouvir algumas poucas histórias, como a do cachorro Tejo que lhe fazia companhia quando ela era pequeninha e ficava num cercado de madeira enquanto os pais trabalhavam. Segundo dizia, era comum que o cachorro avançasse na comida que davam a ela. Conta a lenda que ele adorava batatas com azeite. Nem todas as histórias eram engraçadas. Primeira filha do casal de imigrantes portugueses Francisco Simões, garçom, e Adelaide da Conceição, dona-de-casa, cursava o terceiro ano primário quando foi tirada da Escola Barnabé, em Santos, para ajudar a cuidar dos três irmãos mais novos. Sabia ler, escrever e fazer as contas – e isso já era muito para uma menina do final da década de 1910. Todos os irmãos tiveram a chance de estudar mais do que ela. Mais de cinquenta anos depois de encerrar sua vida escolar, ela ainda mostrava tristeza quando lembrava do trauma de sair forçada do colégio. Mas exorcizava a amargura ajudando os netos a fazer a lição de casa. Outra lembrança triste era a da gripe espanhola, que em 1918 levou seu pai para um hospital de isolamento em Santos, acho que a Beneficência Portuguesa – ele se salvou – mas matou sua irmã mais nova, Giselda, um bebê. Um outro caso que Candinha contava dava conta da severidade da educação portuguesa. Seu irmão Maneco uma vez ousou desafiar uma ordem da mãe desfiando o que devia ser um bordão da época: “Diz isso cantando, borboleta”. Ele nunca se esqueceu do tapa na boca que levou. (Fabrício)

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