
Aprendi a gostar de novelas com ela. Quando eu tinha uns cinco anos, no comecinho dos anos 1970, lembro que ela acompanhava as tramas da TV Record numa fase em que a rede paulista tinha um elenco de primeira: Nathália Timberg, Lilian Lemertz, Rolando Boldrin, Joana Fomm ... Ficaram grudados na minha memória aqueles títulos melodramáticos: O tempo não apaga, Os Deuses estão mortos, Quero Viver, Vendaval. Candinha dava duro na cozinha, cuidava da casa e dos netos, mas num aspecto exercia todas as prerrogativas de matriarca: quem mandava na televisão era ela e todo mundo respeitava.
Quando a Record decaiu, nos idos de 1972, Candinha girou o seletor da TV do canal 7 para o canal 8, que transmite a Globo em Santos, e nunca mais voltou atrás. Vimos juntos grandes novelas: Escalada, O Casarão, Pecado Capital, O Astro, Dancing Days, Espelho Mágico, Baila Comigo, Roque Santeiro, Sol de Verão. A última foi O Outro, em 1987, quando eu saí de casa (a família agora morava em Brasília) e fui trabalhar em São Paulo. Mas sempre que uma nova novela se avizinhava, havia alguma menção em nossos telefonemas.
Um dia – Candinha já tinha se mudado para Niterói – soube que ela andava deprimida. A catarata avançava e minha avó já não conseguia enxergar direito. Seguia ouvindo as novelas, como fazia nos anos 40 e 50, quando não perdia as novelas da Rádio Nacional, cujos atores, como Paulo Gracindo, acabariam migrando para a TV. Resolvi comprar uma TV de 29 polegadas, pus no porta-malas do meu Escort, peguei a Dutra e fiz a entrega em Niterói, num 18 de novembro, aniversário da Candinha, acho que de 1995. Ninguém merecia uma TV de tela grande no mundo mais do que ela. Logo a Candinha operou a catarata, voltou a enxergar bem – e seguiu assistindo suas novelas.
Quando ela foi embora, em agosto de 2000, tinha acabado de começar Laços da Família, de Manoel Carlos. Candinha se mostrava algo escandalizada com a trama em que a filha prometia roubar o namorado da mãe. Mas era só charminho. Aquilo não era novidade para quem já tinha visto tanto folhetim. Me lembro de comentar com Candinha no hospital, num momento em que ela teve uma melhora: “Essa aí vai ser boa, hein vó?”
(Fabrício)
Um comentário:
Oi Candinha,
Estou a gostar muito do teu blog! Obrigada para as historias e tambem para as receitas! :-)
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